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Às vezes tratamos o pecado como um problema de pouca importância. Há até cristãos que chegam a menosprezá-lo a ponto de não se importarem com ele, imaginando que, depois de cometer o pecado, é pedir perdão e pronto. Tudo se resolve a pessoa está perdoada, com a conta zerada e pronta para pecar de novo e ser perdoada novamente e assim sucessivamente. Mas será que é isso mesmo? Será que é a isto que deve nos conduzir o ensino de que onde abundou o pecado superabundou a graça (Rm 5.20)? Será mesmo que nenhum preço foi pago para garantir o perdão de nossos pecados? E o que dizer de nossa inimizade contra Deus? Existe reconciliação? Como ela acontece? Isso é o que veremos na lição de hoje.
O capítulo 3 de Gênesis tem muito a nos dizer sobre o pecado e suas consequências, bem como sobre o estado do ser humano antes e depois da Queda. Na lição 1, vimos que, ao pecar, Adão caiu do estado de santidade em que havia sido criado. Isso trouxe variadas e graves consequências tanto para ele mesmo quanto para todos os seus descendentes. A maior e mais grave de todas as consequências do pecado foi o rompimento da comunhão entre Deus e o ser humano.
Este rompimento pode ser visto já em Gênesis 3.8, quando o texto bíblico nos diz que, depois de haver pecado, Adão e Eva se esconderam da presença de Deus. Ao perceberem a aproximação de Deus, Adão e Eva, em vez de sentirem alegria, sentiram medo, desconforto e vergonha. Em vez de se alegrarem por se encontrarem novamente com o Senhor e, assim, fortalecerem sua comunhão com ele e desfrutarem dela, tomaram a iniciativa de se esconder de Deus, evidenciando que a comunhão com seu Criador havia sido quebrada.
Embora a resposta de Adão ao chamado do Senhor pareça ser uma confissão de pecados feita por um homem humilde e contrito, no entanto, foi simplesmente a reação de alguém que ainda não havia se arrependido pelo seu pecado. Observe que não há, na resposta de Adão, nenhum sinal de arrependimento pelo que havia feito. A única coisa que Adão confessa é seu sentimento de medo. No novo estado em que se encontrava por causa do pecado, sua preocupação era consigo mesmo e com seus sentimentos, não com sua relação com Deus e o estrago que o pecado fez nela. O que se percebe é que ele havia tomado consciência de que, depois de sua desobediência, sua relação com Deus não era mais a mesma e, por isso, escondeu-se da presença do Senhor. Ele atribui o medo que estava sentindo à voz de Deus e ao fato de estar nu (“Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi”), como se nunca antes tivesse ouvido Deus falar e nunca tivesse estado nu. Ele não reconheceu no pecado a causa de sua desgraça e ainda precisou ser confrontado por Deus até que, no versículo 17, o Senhor fala abertamente com ele sobre seu pecado e lhe impõe punições. Na verdade, havia ocorrido uma imensa mudança no estado do primeiro casal. O estado de santidade em que tinham sido criados deu lugar ao estado caído em que se encontravam por causa do pecado.
Diante da resistência de Adão em admitir que havia sentido medo de Deus porque havia desobedecido a ordem que havia recebido, o Senhor pergunta: “Quem te fez saber que estavas nu?” (v. 11). Em outras palavras, Deus queria que ele reconhecesse qual tinha sido a fonte, a origem de sua culpa e de sua vergonha. Ele precisava reconhecer que a causa primária do rompimento de sua comunhão com Deus era o pecado. Este reconhecimento humilde e sincero é o primeiro passo para o arrependimento e o perdão providenciado por Deus em Cristo.
A esta altura, precisamos perguntar: As árvores podiam esconder Adão e Eva de Deus? Em outras palavras, afastar-se e esconder-se de Deus é uma solução eficaz para o pecado e suas consequências? É claro que não. Sobre a presença de Deus, o salmista diz: “Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço minha cama no mais profundo abismo, lá estás também” (Sl 139.7-8). O profeta Isaías diz que “as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). O fato é que o pecado nos afasta de Deus, nos impede de enxergar Deus como gracioso e misericordioso e de ter prazer em sua presença. O pecado, por sua própria natureza, produz separação de Deus e, assim, traz consigo trevas, ignorância, erro, engano, medo, angústia, sentimento de culpa, pesar, miséria e escravidão.
A inimizade que o pecado provoca entre nós e Deus é real e traz consequências devastadoras para todos os seres humanos. A maior destas consequências e nosso fracasso em cumprirmos o propósito para o qual fomos criados, que é glorificar a Deus e desfrutar dele para sempre. O desagrado de Deus por causa do nosso pecado é nosso maior fracasso. Além disso, o pecado traz consequências graves e danosas também para nossa vida. Por provocar separação entre nós e nosso Deus, ele nos separa da fonte de toda a vida e de toda a bem-aventurança, que é o próprio Deus. Em outras palavras, o pecado nos traz a morte (Rm 6.23) e não somente a morte física e espiritual, mas também a morte eterna. A boa-nova do evangelho é que Deus, em Cristo, providenciou um meio totalmente eficaz para solucionar o problema do pecado. Este meio é a morte substitutiva de Cristo. Tendo morrido em nosso lugar e suportado, em nosso lugar, a ira de Deus, ele ganhou para nós o perdão para nossos pecados.
Paulo fala sobre isso vários textos. Um deles é Romanos 5.1-11. neste texto, já no versículo 1 Paulo relaciona a obra de Cristo na cruz com o restabelecimento da paz entre nós e Deus: “Justificados… temos paz com Deus”. A paz com Deus é uma bênção graciosa que recebemos da parte do próprio Deus por causa do sacrifício de Cristo. Este estado de paz com Deus é resultante da remoção daquilo que fazia separação entre nós e Deus, consequentemente, provocava inimizade entre nós e Deus. Esta reconciliação foi realizada pela morte de Jesus. É preciso enfatizar que a reconciliação – e também a justificação – é um ato divino. É Deus, não o homem, quem produz a reconciliação, a mudança de inimizade em amizade.
Todavia, assim como é verdade que a justificação requer fé por parte do homem – a fé comunicada por Deus e por ele sustentada não deixa de ser, não obstante, a fé humana – assim também a reconciliação requer obediência por parte do ser humano. Aqui também é verdade que tal obediência é dom de Deus. No entanto, é o ser humano que obedece à exortação: “Rogamos que vos reconcilieis com Deus” (2Co 5.20).
O texto é 2Coríntios 18.20 também trata da reconciliação entre nós e Deus. Aqui, Paulo se preocupa em afirmar claramente que esta reconciliação é uma iniciativa de Deus. Embora a separação e a inimizade tenham sido causadas pelo pecado humano, a reconciliação é um ato soberano de Deus, no qual ele toma a iniciativa de apresentar uma solução definitiva para o problema do pecado: o sacrifício substitutivo de Cristo. Desta forma, “tudo provém de Deus”, isto é, ele toma a iniciativa de desfazer a inimizade criada pelo pecado humano, ele providencia a forma pela qual esta reconciliação pode ser realizada de modo harmonioso com sua justiça e sua santidade e ele até mesmo envia ao mundo mensageiros encarregados de anunciar o evangelho da reconciliação.
Toda esta obra da parte de Deus foi necessária para que não apenas as consequências desta inimizade, mas a sua raiz, sua causa primária, fosse definitivamente vencida: o pecado. Pelo pecado, o ser humano se coloca em ativa rebelião contra Deus e se torna inimigo de Deus. Esta inimizade é vista no fato de que, por meio do pecado, o ser humano tenta se colocar não no lugar de outra criatura, mas no lugar do próprio Criador, deseja ser seu próprio deus, tornando-se o árbitro e o controlador de sua própria vida, tornando-se, assim, merecedor da ira de Deus. Demonstrando sua graça e sua misericórdia, o Senhor toma a iniciativa, mesmo sendo a parte ofendida, de vir em direção ao ser humano e fazer tudo o que era necessário para que a reconciliação fosse feita.
Em Colossenses 1.18-22, Paulo mais uma vez retoma o tema da reconciliação, mostrando que foi do agrado de Deus não apenas criar todas as coisas, no céu e sobre a terra, por meio de Cristo (Cl 1.16), mas também reconciliar “consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus” (v. 20). Por causa do pecado, o universo foi envolvido em uma inimizade contra seu Criador e precisa ser reconciliado com ele. O pecado humano atingiu não apenas os seres humanos, mas toda a criação – “maldita é a terra por tua causa” (Gn 3.17); “Sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias ate agora” (Rm 8.22) – e a obra reconciliadora de Jesus tem seus efeitos sobre toda a criação. O pecado arruinou o universo. Ele destruiu a harmonia entre as criaturas e Deus e entre as criaturas entre si. A provisão para o restabelecimento da paz foi feita em Cristo e a paz eterna e infinita será definitivamente estabelecida no dia da consumação da obra redentora de Cristo.
O pecado não é um problema pequeno e de pouca importância, mas uma rebelião gravíssima contra Deus e seu governo e tem sérias consequências para toda a vida humana e para toda a criação de Deus. O problema do pecado é algo tão sério e tão grave que nenhum ser humano jamais conseguiu nem conseguirá se livrar dele pelos seus próprios esforços. No que depender de nós, nossa inimizade contra Deus é eterna. No entanto, Deus, pela grandeza de sua graça, tomou a iniciativa de vir ao nosso encontro e promover a reconciliação pelo sangue de seu Filho. O derramamento do sangue de Cristo foi o preço pago pela nossa reconciliação com Deus, o que nos mostra o quanto nosso pecado é grave aos olhos de Deus e o quanto ele nos ama.
A inimizade causada entre nós e Deus pelo pecado é um problema tão grave e tão sério que, para promover a reconciliação, o Senhor teve que tomar a iniciativa e realizar toda a obra, inclusive realizar a justificação por meio do sangue de Cristo. Você percebe o quanto foi alto o preço pago para que seus pecados fossem perdoados e sua reconciliação com Deus fosse efetuada em Cristo? Isso traz alguma implicação para sua vida diária? Qual?
Fonte: Revista Palavra Viva e outras
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