A RECONCILIAÇÃO COM DEUS

Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.

1 João 4:10. 

         Ninguém pode ser reconciliado com Deus, sem que antes seja recrutado por Ele. Nós não podemos ser recrutados por Deus, sem que antes sejamos amados por Ele. Primeiro, Deus nos ama, depois Ele nos chama. A convocação é precedida pelo Seu amor.

Tanto na criação como na redenção, tudo começa em Deus e é feito por Deus. Ele é o autor e o executivo de tudo, e da nossa da salvação, de fio a pavio. NEle se origina tudo, incluindo o amor: Nós amamos porque ele nos amou primeiro. 1 João 4:19.

A Bíblia explica a Bíblia. Talvez este texto traga alguma dificuldade para alguns que acham que foram eles que amaram a Deus primeiro: E sabemos que Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam e que são chamados de acordo com seu propósito. Romanos 8:28(NVT). Se estes amam a Deus, com certeza, este amor vem do próprio Deus, que é amor e a razão de todo amor.

O amor de Deus por nós é a causa do nosso amor por Ele, assim como a luz do sol é que nos proporciona a capacidade de ver o sol. João diz que Deus nos amou e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados, isto é, como conciliador da crise.

O pecado nos separou de Deus e, por causa disso, nos tornamos irreconciliáveis com Deus. Não há de nossa parte nenhuma condição para desfazer a contaminação radical do pecado. Tudo em nós encontra-se poluído de orgulho e nada podemos fazer para nos descontaminar desta arrogância essencial. Até o nosso arrependimento é problemático.

O arcebispo de Paris, no séc 16, François Fenelon afirmou: “Nosso orgulho sente desgosto por nossas falhas, e muitas vezes confundimos esse desgosto com o verdadeiro arrependimento.” E Thomas Watson o segue com o mesmo olhar: “Os olhos podem estar rasos d'água, e o coração, empedernido. O damasco pode estar macio por fora, mas dentro tem um caroço duro.” É impossível confiar na conversão produzida pelo coração humano.

O Dicionário de Vine diz: propiciar - hilaskomai foi usado entre os gregos com o significado de “tornar os deuses propícios, apaziguar”, na medida em que sua boa vontade não foi concebida como atitude natural, mas algo a ser ganho primeiro.

Este uso da palavra é estranho para a Bíblia grega, com respeito a Deus. Nunca é usado de qualquer ato pelo qual o homem traz Deus para uma atitude favorável ou uma disposição graciosa. É Deus quem é “propiciado” pela vindicação de Seu caráter santo e justo, pelo qual através da provisão que Ele fez no sacrifício vicário e expiatório de Cristo, Ele lidou com o pecado de tal maneira que pode mostrar misericórdia ao pecador crente na remoção de sua culpa e a remissão de seus pecados.

Só Jesus Cristo pode, de fato, nos reconciliar com o Pai, não necessariamente aplacando a ira de Deus, apenas, mas favorecendo a Sua misericórdia como agente de um amor incondicional. O pecado é tão ofensivo ao caráter Divino, que apenas e tão somente o próprio Deus pode remover os seus efeitos maléficos e altivos na vida dos crentes.

O pecado é uma ofensa imperdoável ao caráter de Deus. Nós agredimos a Deus em sua natureza, tentando passar a perna nEle, ocupando o seu lugar. Somos raça rebelde e avessa a amizade com Deus, por isso só Deus pode desfazer essa oposição do pecado.

A propiciação Divina é a única via de nossa reconciliação com Deus. Jesus teve que assumir o castigo do rebelado e reconcilia-lo com Ele, fazendo-se propício a Si mesmo. Cristo Jesus é a nossa propiciação a Ele. Tornamo-nos aceitáveis a Deus por Ele mesmo.

Paulo descreve a operação Divina, assim: Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação. 2 Coríntios 5:18. Cristo tornou-se propiciação por nós, para que nós nos tornemos propícios diante de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo.

O perdão não é algo torcido por uma divindade relutante. É o presente gracioso deum Deus que está desejoso por perdoar o Seu povo. O salmista diz: Ele, porém, que é misericordioso, perdoa a iniquidade e não destrói; antes, muitas vezes desvia a sua ira e não dá largas a toda a sua indignação. Salmos 78:38.

O desvio da ira de Deus não é algo que os homens causam. É devido a ninguém menos que o próprio Deus, que "desviou sua ira." Quando olho para Jesus vejo a execução de uma profecia ligada ao sacrifício. Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida. Levítico 17:11.

Com certeza este sacrifício não podia ser o do sangue de touros e bodes, mas pelo sangue puro do Cordeiro de Deus, porque, como diz Hebreus 10:4: é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.

Thomas Boston no séc 17 dizia: "Há uma corda de três pontas contra o céu e a santidade, que não é fácil de ser rompida; um homem cego, uma vontade pervertida, e um sentimento desordenado. A mente, inchada pela vaidade, diz que o homem não deve se humilhar; a vontade, inimiga da vontade de Deus, diz: ele não quer; as emoções corrompidas levantando-se contra o Senhor, em defesa da vontade corrompida diz: ele não irá. Assim a pobre criatura permanece irredutível contra Deus, até o dia do Seu poder, quando é feito nova criatura". Só Deus pode reconciliar o pecador com Ele mesmo.

E sabemos que Deus faz com que todas as coisas cooperem para o bem daqueles que o amam e que são chamados de acordo com seu propósito. Uma vez que Deus conheceu os seus de antemão, os predestinou para se tornarem semelhantes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos. Depois de predestiná-los, chamou-os, e depois de chamá-los, os justificou, para que, justificados fossem todos estes glorificados e participantes da sua glória. Romanos 8:28-30.

Para reconciliar o Seu povo com Ele mesmo, Deus primeiro o amou. Porque Ele ama, Ele conhece. E porque conhece, o predestina a ser conformado com a imagem do Seu Filho. E uma vez destinado de ante mão, Deus chama eficazmente, a fim de reconciliar este povo com Ele mesmo, mediante a justiça do Seu Filho e, uma vez justificado pelo Filho, lhe é conferida graciosamente a glória que lhe fora destituída com o pecado.

A obra de Deus é totalmente dEle. Deus glorifica a quem justificou; justificou a quem chamou; chamou a quem predestinou; predestinou a quem conheceu; conheceu a quem amou incondicionalmente, por Sua graça, antes da fundação do mundo. Ele jamais será surpreendido por alguém em algo. Não há a menor condição de Deus se equivocar. Ele é onisciente, onipotente e onipresente e nada foge da Sua soberana vontade.

Alguém pode dizer: - eu posso me reconciliar com Deus se eu quiser. Sim, se quiser, você pode. A questão é esta: Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida. João 5:40. A vontade do homem caído é avessa a Deus. E a Bíblia vai mais e diz: como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; Romanos 3:10-11. Como pode acontecer isto?

Se o Espírito Santo não nos convencer do pecado; não nos vivificar dentre os mortos espirituais; não nos der fé para crer na suficiência da graça e arrependimento para deixarmos a autoconfiança, não teremos vontade, nem condições de buscar a Deus.

Vou usar aqui a argumentação de A. W. Pink. “O homem natural é incapaz de ‘vir a Cristo’. João 6:44, Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer. A razão pela qual ‘duro é esse discurso’, até mesmo para milhares que professam ser cristãos, é que eles fracassam completamente em compreender o terrível estrago que a queda provocou; e, o que é pior, eles mesmos não se dão contam da ‘chaga’ que existe nos seus próprios corações (1 Rs. 8:38). Certamente se o Espírito já os tivesse despertado do sono da morte espiritual, e lhes dado ver alguma coisa do pavoroso estado em que estão por natureza, e feito sentir que suas ‘mentes carnais’ são ‘inimizade contra Deus’ (Rm. 8:7), então, eles não mais discordariam dessa solene palavra de Cristo. Mas aquele que está espiritualmente morto não pode ver nem sentir espiritualmente”.

Sendo assim, ninguém pode se reconciliar com Deus, se o próprio Deus não o reconciliar com Ele mesmo. “No Novo Testamento, o ato de propiciação sempre se refere à obra de Deus e não aos sacrifícios ou ofertas oferecidos pelo homem. A razão para isso é que o homem é totalmente incapaz de satisfazer a justiça de Deus”. Por isso...

 FONTE:WWW.PIBLONDRINA.COM.BR