A Trindade criou o mundo excelente. Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia. Gênesis 1:31.

A natureza física encontrava-se perfeita; a terra era pura, sem contaminação ou o menor sinal de poluição e morte. Tudo era sem retoque. O Cosmo era cósmico e não havia sinal de caos, ainda. E foi com essa matéria que o Senhor Deus fez o ser humano.

Adão, homem coletivo, foi feito do caulim, de uma argila pura. Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.Gênesis 2:7. Foi uma poeira pura soprada.

Vou escrever aqui uma conversa com uma jovem universitária e inteligente. Ela queria saber como o pecado entrou na raça humana; o que é esse velho homem e essa natureza terrena, que tínhamos abordado anteriormente. Vamos a seus questionamentos.

- O ser humano foi feito reto, sem pecado, num mundo sem os sinais da morte e do pecado, mas pecou. O que o levou a pecar? De onde procedeu o pecado de um ser perfeito que não era pecador por natureza? O que o fez pecar?

- Ok. Deus não precisava criar, mas criou. Ele criou um ser moral responsável. Uma pessoa, só é pessoa, se tiver inteligência, emoções e vontade. Uma criatura pessoal com vontade pode não querer ser o que é, e, tentar ser o que não é. Adão era uma mera criatura; nunca poderia ser o Criador, mas poderia querer ser como o Criador. Certo?

- Sim. Então, você quer me dizer que foi a vontade de Adão que abriu o espaço no homem para a entrada do pecado no mundo? Foi a sua vontade de querer ser como Deus? É isso? O pecado é uma rebeldia da criatura diante do Criador?

- Muito bem. O pecado, antes de ser a rebeldia, é incredulidade. É, de fato, o rompimento de uma relação de intimidade na base da desconfiança.

- Sim. Mas, como isso começou? Não era tudo muito bom? O mundo não era o mundo perfeito? Como surgiu o desejo da criatura de não se conformar em ser a criatura e querer ser como o Criador? De onde surgiu esse sentimento de inconformidade?

- Há dois elementos em jogo. Um interno e outro externo. O interno é o desejo e o externo é um tentador. O tentador suscita a dúvida de que Deus não estava agindo correto e o desejo se expande em querer ser tal como se fosse Deus.

- Então, você quer me dizer que o desejo humano foi excitado por um agente externo para fazê-lo igual a Deus? Por trás da incredulidade e da rebelião encontra-se um elemento externo a incitar a transgressão?

- É exatamente isso. O pecado entrou por um tentador e uns tentáveis.

- Mas, como foi isso? Como surge a tentação?

- Ok. Voltando ao estudo anterior, veja: Ninguém ao ser tentado deve dizer: “Esta tentação vem de Deus”, pois Deus jamais pode ser tentado pelo mal e Ele mesmo não tenta ninguém. (Carta de Tiago 1:13 VFL).

- Com esse texto, você quer dizer que Deus não é a causa da tentação! Mas, não foi Ele quem criou o ser humano? Se Ele criou Adão com uma vontade livre e essa vontade é a causa do pecado, então não seria Deus, em última análise, o responsável?

- Ok! Deus não é o autor do pecado, mas é o criador do homem com aptidão para decidir. Deus não tinha outra alternativa para criar uma pessoa, se ela não tivesse a capacidade de escolher. O ser humano sem uma vontade livre para optar não seria o ser humano. Nesse caso, ele poderia escolher não querer ser como um ser humano.

- O que você está me dizendo é que a vontade livre foi o estopim da bomba? E, nesse caso, Deus sabia que o Adão poderia não querer ser uma mera criatura?

- Com toda certeza: Deus sabia que o homem poderia pecar e essa era a única possibilidade dEle criar um ser livre e moralmente responsável. Se houvesse uma outra maneira, Ele teria usado. Mas o ser humano só teria livre-arbítrio se ele pudesse escolher entre ser o que era, um ser humano, ou não se conformar com essa situação.

- Pois bem! Deus criou o ser humano sem pecado. Criou de matéria pura, sem contaminação, todavia, por causa de sua vontade ele pecou. O que aconteceu daí para frente? Foi o pecado do ser humano que tornou o mundo caótico?

- Sim. Com a queda espiritual houve uma queda na estrutura atômica. Assim, a matéria passou por um desequilíbrio. A natureza física entrou em contorções. Veja como a Bíblia descreve esse estado de perda de energia: Pois sabemos que toda a criação vem gemendo e sofrendo dores até agora, como uma mulher que está prestes a ter um filho. (Carta aos Romanos 8:22 VFL).

- Então, a natureza pós pecado não é a mesma? O que você está dizendo é que o pecado danificou de fato e completamente a estrutura da matéria? Vivemos num mundo em agonia? O corpo humano sendo feito da matéria também está corrompido?

- Sim. Não sou eu quem diz isso. É a Bíblia. A ciência também diz que há um aniquilamento de energia na matéria. A segunda lei da termodinâmica, a lei da entropia, mostra a perda natural de energia no átomo. A matéria envelhece paulatinamente. Toda natureza pós pecado é uma estrutura decadente. O caos e a morte dão as cartas neste mundo. Tudo aponta para o pecado como um acidente cósmico que danificou tudo.

- O pecado então atingiu em cheio toda criação? Então, vivemos a ditadura do caos e da morte? O que você está me dizendo é que o pecado contaminou a natureza?

- Sim. Depois da queda a matéria ficou conspurcada pelos efeitos do pecado. Tudo no universo, a partir do pecado, encontra-se em decadência.

- Olha, o que você está dizendo! Isto pode ter desdobramento complexo. Veja: se a natureza encontra-se sob os efeitos do pecado, então, posso concluir que, quando Cristo se encarnou no Jesus histórico, ele já veio num corpo danificado pelo pecado. O que você me diz, leva-me a concluir que o Verbo, ao se encarnar, encarnou-se numa matéria caída e, portanto, em situação pior do que Adão ao ser criado.

- Sua conclusão é absolutamente correta. O óvulo de Maria fecundado pelo esperma Divino que é a palavra de Deus pertence ao mundo caído. Não vejo base na Escritura para sustentar que Maria tenha sido concebida sem pecado, por isso, se o seu óvulo faz parte de um mundo caído, então, Jesus foi gerado de uma matéria que traz os efeitos do pecado e da morte em sua estrutura orgânica.

- Você quer dizer que Jesus nasceu portando uma natureza caída? Então, o que você está dizendo é que Jesus era pecador?

- Absolutamente, não. Jesus não era pecador. O pecado entrou na raça por meio de Adão. Veja isso: Assim como o pecado entrou no mundo por meio de um homem, e a morte por intermédio do pecado, também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. (Carta aos Romanos 5:12 VFL). O pecado veio pelo homem e ainda que a mulher também tenha pecado, ela não é a sua matriz, ou seja, não é a mulher quem transmite a pecaminosidade.

- Se estou entendendo bem, você quer dizer que a mulher não é a pecadora que transmite o pecado? Você está dizendo que a mulher não cometeu pecado?

- Não. Ela é pecadora, sim. A mulher também pecou, e, com exceção de Eva, toda mulher nasce de espermatozóide masculino. Nasce já contaminada pelo pecado. Porém, não é a mulher o veículo que transmite a pecaminosidade do ser humano, pois, se fosse, Jesus nasceria um pecador. Embora, o óvulo pertença a natureza caída.

- Estou confusa. Você fala que o óvulo não transmite o pecado e diz que ele pertence a uma natureza caída. Não é a natureza caída quem transmite o pecado?

- O pecado e a morte são transmitidos por aquilo que a Bíblia chama de um só homem. A natureza terrena encontra-se caída e sujeita ao pecado, mas não é ela quem transmite o pecado de geração em geração.

- O que é, então, esse, um só homem?

- É o Adão coletivo, transmitido pelo espermatozóide. Esse tal, também pode ser chamado de velho homem, o servo do pecado ou ainda, por alguns estudiosos, de natureza adâmica ou ego. Porém, não devemos confundi-lo com a natureza terrena.

- Mas a natureza terrena não encontra-se caída e sujeita ao pecado?

- Veja: Adão foi feito de uma natureza terrena não caída, pó puro, mas quando ele caiu no pecado, em seu íntimo apareceu um princípio de rebeldia inato denominado de o velho homem ou o princípio anti-Cristo, além do que, no ambiente houve uma catástrofe de proporções cósmica que contaminou o átomo com a morte e a destruição. O velho homem é o artista principal do pecado, a natureza terrena é só coadjuvante.

- Não se irrite comigo. O que você está dizendo é que o corpo de Jesus era um corpo constituído de matéria caída? Ele não era portador do velho homem, pois não foi gerado de espermatozóide adâmico, mas o seu corpo estava sujeito ao pecado?

- Claro que não me irrito. Você está certa. Se Cristo se encarnou depois do pecado, a matéria pós pecado encontra-se caída. Jesus é homem, sem o velho homem governando o seu ser, mas com um corpo de matéria caída sujeito ao pecado.

- Isto quer dizer que Ele não era pecador, mas podia ser tentado como nós?

- Sim. Ele tinha que ser um homem como nós, exceto naquilo que tange ao pecado. Veja a paráfrase: A lei não tinha o menor poder de libertar, porque tinha sido enfraquecida por nossa condição humana e pecadora. Porém, Deus fez o que a lei não podia fazer. Ele enviou o seu próprio Filho à terra com um corpo como o nosso, que é humano e sujeito ao pecado. Deus o enviou como sacrifício pelo pecado e assim, por meio desse corpo humano, condenou o nosso pecado por meio desse sacrifício na cruz. Romanos 8:3.

- Agora estou começando a entender. Jesus tinha que ser um homem como nós, exceto ao pecado. Só um homem que pudesse ser tentado em todas as coisas à nossa semelhança, mas que não tivesse pecado, poderia tratar com o nosso pecado.

- Gol!!! Jesus tinha que ser um homem como nós, mas sem pecado. Que lindo é o caminho da redenção: O nosso Sumo Sacerdote não é alguém que não possa se compadecer de nossas fraquezas. Ao contrário, Ele foi tentado de todas as maneiras, assim como nós também somos tentados, mas nunca pecou. (Carta aos Hebreus 4:15 VFL). Aqui está a chave. Ele era um homem igual a nós; a diferença é que, sem pecado, pode pagar o preço da nossa redenção: o seu sangue era puro. Mas para nos purificar de todo o pecado, Ele teve que levar, em seu corpo na cruz, tanto o nosso velho homem corrupto, como os nossos pecados perversos.

P.S: Vou terminar hoje aqui. Na próxima vez que vier a este momento de estudo, vamos continuar com os questionamentos da jovem.