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“Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação”. Fl 4.11.
“No futuro, os cientistas talvez consigam prolongar a vida, mas será que vai valer a pena viver?” escreveu Nigel Hawkes no jornal The Times. Aparentemente, um professor de Oxford defende ser possível prolongar a vida para muitas pessoas até os 115 anos. Mas Nigel Hawkesestá certo ao questionar, “ Será que vai valer a pena viver?” . Um aumento da expectativa de vida é de pouco valor, a menos que seja uma vida de significado, digna de ser vivida e com as prioridades corretas.
Todos os dias, bilhões de dólares são gastos em busca de felicidade e satisfação. Porém está sendo cada vez mais raro encontrar uma pessoa feliz e satisfeita. Você com certeza já pensou, falou ou ouviu: “Eu quero apenas ser feliz!”. Ou ainda alguns dizendo: “Eu seria feliz se:” -“encontrasse a pessoa certa”, “se eu tivesse dinheiro”, “ se eu tivesse um novo emprego”, ou “ se eu tivesse uma casa” e a lista é interminável.
Há uma diferença abismal entre felicidade e alegria. A felicidade é algo passageiro, no entanto a alegria é permanente. A felicidade vem das coisas, enquanto a alegria vem de Deus. Jesus não falou muito sobre felicidade, mas sim sobre alegria. “Tenho disto isto para que a minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa” Jo 15.11.Também não falou que a alegria seria o oposto de ausência de dor ou de humilhações. “Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus.” Hb 12.2.!
A vida de Jesus foi marcada por uma alegria não baseada em circunstâncias mas em seu relacionamento íntimo com o Pai. Sua busca não era de sua própria glória, mas viveu para a Glória do Pai em dependência total do Espírito Santo. Ele veio inaugurar um novo estilo de vida baseado nas prioridades do Reino de Deus. Sua instrução foi clara: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas”. Mateus 6:33
Atualmente uma das coisas que tem roubado a alegria é a ansiedade. O psicólogo Abraham Maslow dentro de sua teoria das necessidades, no final de sua vida fez uma mudança significativa em seus pensamentos. Ele descobriu que o ponto máximo da vida não era a auto-realização, mas que o ser humano somente se completaria na experiência com a transcedência, porque a auto-absorção não traz felicidade. Parece que de alguma forma este teórico descobriu algo que já tinha sido ensinado, há muito tempo atrás, pelo apóstolo Paulo. Pois viver para Deus e para os outros é um estado espiritual mais satisfatório do que apenas sentir-se bem consigo mesmo.
A perspectiva da vida de Paulo não era a partir dele mesmo, mas ela estava centrada em Deus. “Pois para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fil 1.21). Paulo descobriu que a alegria não vem de receber, mas de dar. A palavra alegria vem do verbo original “chara”. O termo, charis, que significa graça, vem da mesma raiz. Trata-se de uma qualidade de vida fundamentada nas dádivas graciosas de Deus e de Sua bondade. Somente uma vida identificada com Jesus Cristo em sua morte e ressurreição, tem capacidade vinda do alto para enxergar todas as coisas a partir da perspectiva da alegria da ressurreição. Esta qualidade de vida provém de um coração novo, de um eu desprendido de si mesmo, morto para as suas ambições pessoais.
Assim alegria pode ser definida como um estado de contentamento espiritual interno, que irrradia pelas emoções e pelo corpo. É um fluxo contínuo e constante, que não é diminuído pelas situações adversas. Ele também define alegria como sendo um dos elementos fundamentais do Reino de Deus. “Pois o Reino de Deus não é cominda nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” ( Rm 14:17). O importante é perceber que a alegria só vem depois da justiça e da paz.
Para entendermos a carta aos Filipenses, precisamos nos remeter ao momento histórico da formação desta igreja, narrados em Atos 16. Paulo foi o plantador desta igreja, em situações bastantes adversas, em meio às cadeias, sofrimentos e perseguições. Contudo, ele experimentou e compartilhou as maiores alegrias que o Evangelho pode proporcionar.
1. A alegria de ter a vida dirigida por Deus.
Paulo experimentava a alegria de ser guiado pelo Espírito de Deus. Em sua segunda viagem missionária Paulo tinha como propósito a evangelização da Ásia através da formação de novas igrejas. Porém os planos de Deus eram outros. Preste atenção no texto em Atos 17.6-7 para ver quem impediu o planejamento estratégico de Paulo. “Paulo e seus companheiros viajaram pela região da Frígia e da Galácia, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na província da Ásia. Quando chegaram à fronteira da Mísia, tentaram entrar na Bitínia, mas o Espírito de Jesus os impediu.”
O objetivo de Deus naquele momento era que o evangelho chegasse na Europa e propagasse também pelo mundo Ocidental. O pastor Hernandes Dias Lopes tem razão em afirmar que “a agenda missionária da igreja deve ser definida no céu e não na Terra, por Deus e não pelos homens”. Logo em seguida, “Paulo teve de noite uma visão em que se apresentou de noite um homem da Macedônia, que lhe rogava: “Passa a Macedônia, e ajuda-nos”( Atos16:9). Em obediência à visão, Paulo e seus companheiros se dirigiram para várias cidades até chegar em Felipos, onde se deu a formação da primeira igreja na Europa. Com isso o evangelho se espalhou pelo mundo Ocidental e chegou até nós.
2. A alegria de ver Deus agindo e salvando vidas nas situações mais adversas
A cidade de Filipos era uma cidade estratégica onde havia uma marcante miscigenação de pessoas. Paulo, testemunhou como o Evangelho transformou judeus, gregos e romanos. A primeira pessoa a ser convertida foi uma mulher judia e rica chamada Lídia. No relatos de Lucas vemos a ação da graça de Deus na salvação dela.“ O Senhor abriu seu coração para atender à mensagem de Paulo. Mais tarde, a igreja passaria a se reunir na casa de Lidia. (Atos 16.40).
A seguir vem o relato de uma jovem escrava endemoninhada que todos os dias os seguia gritando:Estes homens são servos do Deus Altíssimo, que estão anunciando-vos o caminho da salvação”. Atos 16.17. Depois de muitos dias, Paulo, perturbado, decidiu expulsar o demônio daquela jovem. Então, os proprietários da mulher, irados por perderem a sua fonte de lucro, entregaram Paulo e Silas às autoridades romanas. Alguém já disse que “a porta que Deus abre nem sempre nos conduz por um caminho fácil, porém sempre nos conduz para um destino vitorioso”.
Paulo e Silas foram presos, acorrentados e trancados no cárcere. Mas eles não reclamaram, não se amarguraram, nem se revoltaram contra Deus. Ao invés disso, passaram a adorar a Deus. Seria isso um sinal de alegria? “Por volta da meia-noite, Paulo e Silas estavam orando e cantando hinos a Deus; os outros presos os ouviam.” Atos 16.25. O impressionante é ver o que se segue depois. “De repente, houve um terremoto tão violento que os alicerces da prisão foram abalados. Imediatamente todas as portas se abriram, e as correntes de todos se soltaram”.
Diante de tamanho estrondo as portas das celas foram abertas, e o carcereiro amerdrontado decidiu pelo homicídio ao invés de cair nas mãos dos prisioneiros ou do Estado Romano, foi quando Paulo gritou: "Não faça isso! Estamos todos aqui! " Então o carceiro prostou-se aos pés de Paulo e Silas e fez a pergunta que iria mudar de vez a sua história e de sua família: "Senhores, que devo fazer para ser salvo? " E assim o evangelho foi anunciado: "Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa". Naquela mesma noite o carcereiro e sua família foram batizados. “Então os levou para a sua casa, serviu-lhes uma refeição e com todos os de sua casa alegrou-se muito por haver crido em Deus.” Atos 16.28-34. O Evangelho sempre produz celebração.
3. A alegria de ser sustentado pela graça de Deus
Doze anos após estes fatos, Paulo se encontrava em Roma, preso e correndo o risco de ser executado. É neste contexto de novas adversidades que ele escreve a carta de Filipenses, uma carta que também pode ser chamada de Epístola da Alegria. Por quatro anos Paulo tinha estado preso injustamente e estava sendo caluniado por certos cristãos judaizantes de Roma que aspiravam algum tipo de liderança na comunidade cristã. Estes homens inexplicavelmente viam na prisão de Paulo uma oportunidade de desprestigiá-lo em proveito próprio (Fil 1;15-17). Mas para Paulo a sua confiança estava depositada em outro lugar. O essencial para ele era fazer o nome de Jesus engrandecido.
A força e alegria de Paulo estavam no Senhor. Ele escreveu: “Posso todas as coisas Naquele que me fortalece” (Fil 4:13) e“Alegrai-vos sempre no Senhor, outra vez digo, alegrai-vos no Senhor” (Fil 4.4). Paulo trata nesta carta de uma alegria absolutamente possível. Uma alegria que não depende de circunstâncias, uma alegria centrada no Senhor, uma alegria constante. O seu segredo era a vida de união com Cristo. Paulo era uma pessoa cuja existência havia sido absorvida pela vida de Cristo. Ele vivia em união com Cristo, uma união relacional, similar ao casamento.
A união com Cristo não é algo estático, mas um processo que produz dois movimentos internos (Rm 6:1-14). Primeiro, a mortificação da velha vida e segundo, a vivificação e manifestação da nova vida. Trata-se de uma morte diária para o velho modo de vida, influenciado pelo pecado, e de uma vivificação, onde o poder da ressurreição que operou em Cristo, opera também no cristão. Uma vida marcada por libertação, amor, alegria mas também sofrimento.
No Reino de Deus alegria e sofrimento não são incompatíveis. Paulo conhecia a importância do sofrimento na promoção da alegria que vem de Deus. “O próprio Cristo aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu.” Hb 5.8. O sofrimento nos conforma com Cristo. Ele quebra o nosso orgulho e nos capacita a transferir a confiança em nós, para Deus. Como diz Calvino : “Existe uma alegria secreta escondida por traz de toda cruz externa”.
Dietrich Bonhoeffer é um exemplo contemporâneo deste modo de vida marcado pela alegria no sofrimento. Ele, um pastor e teólogo, preso por Hitler na Alemanha nazista, o qual escrevia cartas de encorajamento de dentro da prisão aos jovens seminaristas e pastores. A fim de combater a letargia deles diante das opressões daquele sistema, ele focava a idéia do Advento e da alegria em Cristo. Em uma de suas últimas cartas disse: “Essa alegria é apropriada para o sofrimento. A alegria de Deus, passou pela pobreza do presépio e da agonia da cruz; é por isso que ela é invencível e irrefutável.” (Carta para os seus amigos, 29 de Novembro de 1942)
O apóstolo Paulo, ao longo de sua jornada espiritual, aprendeu o verdadeiro sentido e significado da vida.Sua alegria não estava baseada nele mesmo ou na realização de seus anseios pessoais, mas sim em amar e servir a Deus e ao próximo. Sua motivaçao baseava-se na esperança de que o melhor da vida ainda estava por vir.“Mas somente os remidos andarão por ela, e os remidos do Senhor voltarão e entrarão em Sião com júbilo; alegria eterna coroará as suas cabeças. Gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido.” Isaias 35.11
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