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Depois de percorrer de carro segunda-feira (19) quase toda a extensão da Estrada Parque para inspecionar os serviços de recuperação dos pontos críticos e atoleiros formados pelas constantes chuvas, o governador Confúcio Moura anunciou a conclusão da última das três pontes de madeira, no igarapé Formoso, e a previsão da entrega oficial da estrada à população para junho de 2014.
O trecho de 12 km, aberto em caráter emergencial para tirar os municípios de Nova Mamoré e Guajará-Mirim do isolamento no período da cheia histórica do rio Madeira, liga os distritos de Jacinópolis a Nova Dimensão e começa ser chamado inclusive pelo governador de a “Estrada da Salvação”.
Segundo ainda Confúcio Moura, encurta em cerca de 700 km uma viagem entre o município de Buritis até Nova Mamoré, Noroeste de Rondônia. Representa uma conquista sem conflitos e sem ataques a ninguém. Na sua avaliação, os serviços adiantaram bastante e é uma estrada indispensável à região.
Um trecho pequeno e de difícil acesso que teve de ser aberto num período muito chuvoso e distante das minas de cascalho. “Mas o certo é que avançou bastante e estamos fazendo a última ponte”.
Atualmente a estrada já dá acesso a carros e caminhões que transportam gêneros alimentícios para abastecimento dos mercados consumidores de Nova Mamoré e Guajará-Mirim, pois um trecho da BR-425 ainda está interditado. “É a estrada da ‘salvação’ e de grande necessidade. Nós vamos cuidar muito bem dela. Não pode funcionar dia e noite. Vai seguir leis ambientais próprias e seguras. O pessoal vai se disciplinar e lá na frente será toda asfaltada”, ressaltou o governador.
Antes, por causa dos mais de 700 km de distância pela BR-364, o frete de um carregamento de merenda escolar transportado até Nova Mamoré ou Guajará ficava mais caro do que a compra dos produtos. “Agora”, acrescentou: “o prefeito gasta 1h30 e no mais tardar no mês de junho a estrada será concluída e entregue à população”, frisou.
Menos sofrimento
A paranaense Zenilda Bispo da Costa, 49 anos, disse, enquanto aguardava o desembarque do governador no cruzamento da BR-421 com a Linha sete Sul, que “a abertura dessa estrada encurtou o meu sofrimento”. Ela é portadora de uma “mancha” no cérebro e por isso toma 280 comprimidos de remédios controlados por mês e necessita ir sempre à Nova Mamoré para despachar a receita na farmácia do Centro de Apoio Psicossocial (CAPS). “Tudo está mais fácil e não preciso mais ser puxada pelo braço pelo meu marido”, diz.
Agora é uma viagem de no máximo 100 km sem enfrentar, segundo Zenilda, os atoleiros na “picada” aberta com facão pelo meio da mata, além de ser obrigada a subir e descer ladeiras, que às vezes somente conseguia passar com a ajuda do marido. Há 5 anos, ela conta que atravessava o Parque a pé, com malária, às vezes até chegar a Linha 28 e poder pegar um táxi até Nova Mamoré. Ainda assim na viagem de volta era obrigada vir de motocicleta num trecho de 50 km, sem poder usar capacete, ficar em ambiente fechado e nem tomar muito sol. “Eu acredito que daqui pra frente vai ficar cada dia melhor e todos os moradores de Jacinópolis estão muito satisfeitos com a abertura da Estrada Parque”.
Água no pescoço
O produtor Hermínio Martins de Lima e sua mulher Claudete ajudaram no primeiro mutirão para instalação dos primeiros pontilhões para as máquinas do DER iniciarem a abertura da estrada. Ele diz que se reuniram com outros vizinhos e foram ajudar. “Estamos trabalhando até hoje, ajudando o pessoal aí. Fazendo tudo o que a gente pode fazer. Ajudando os trabalhadores no transporte de madeira para construção das pontes e o pessoal que está passando rumo a Guajará-Mirim e necessita de local para dormir”.
Com tudo mais perto, facilitou também mexer com a documentação. Segundo Martins, o morador da região sofria demais. De primeiro a gente tinha que atravessar em balsas pequenas os igarapés e agora tem a estrada. “Quase perdemos parceiros na travessia quando a balsa rodava (desgovernava). Aí já veio as pontes e agora atravessa carro. Antes, não era possível”, lembra.
Claudete disse que muitas vezes tinha que atravessar o igarapé com água na altura do pescoço para ir resolver pendências de documentos em Nova Mamoré. Para estudar, hoje já tem ônibus para transporte das crianças. “Antes estudavam nas escolinhas montadas pelos próprios pais em suas casas. Hoje eles já estão indo para as escolas na rua”.
Jeferson Campos de Oliveira, 36 anos, mora no km 3,5 da Linha sete, e sem energia elétrica para conservação das doses de insulina é obrigado a viajar todos os dias 18 km para receber as aplicações. Destacou a abertura da estrada, mas adianta que ainda falta muita coisa.
Oliveira relata que gasta dois discos de embreagem de moto por mês para transportar leite em estradas que são verdadeiros atoleiros. Mas admite já ser um bom começo a abertura da Estrada Parque. “As autoridades não podem ficar exigindo a regularização imediata de todos as motos aqui. Precisamos de prazo para regularizar os veículos, embora agora tudo tenha ficado mais fácil mesmo”.
Ele é um dos moradores de Jacinópolis que para buscar tratamento de saúde, ir ao banco ou cartório e ao Incra, Idaron ou outro órgão oficial em Nova Mamoré, por exemplo, eram obrigados a percorrer 670 km até Nova Mamoré pelo trajeto Jacinópolis/Buritis/Ariquemes/Porto Velho/Nova Mamoré ou se arriscar por dentro da mata em quase todo o trecho de 12 km de área alagada e de difícil acesso.
Agora os moradores de Jacinópolis estão a cerca de 100 km do município de Nova Mamoré. Ou seja, quem mora em Jacinópolis atravessa os 12 km da Estrada Parque, chega à Nova Dimensão e percorre 80 km até Nova Mamoré.
A notícia da conclusão da estrada trouxe ainda mais otimismo aos produtores da região. Associações de Produtores Rurais, como a Azagave, da Linha sete, que não funcionava há cerca de 10 anos está sendo reorganizada. Segundo o presidente José Luiz de Oliveira, 60 anos, a entidade existe há 10 anos, mas era pouco assistida e agora está sendo reorganizada porque é a forma de reforçar as reivindicações da população local, principalmente quanto à importância da energia para a região.
Segundo Oliveira, antes da abertura da estrada o produtor tinha que voltar cerca de 700 km para chegar à Nova Mamoré. “Hoje morador daqui anda apenas 100 km até Nova Mamoré, porque toda a documentação dessas áreas, atendimento em hospital e posto de saúde tudo é tratado lá”. Pediu, no entanto, menos rigor no horário de fechamento do acesso, após as 18h nos casos específicos de professores e mulheres em fase de amamentação que necessitam passar pela estrada.
Decom
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